O que é ceratocone?
Ceratocone é uma condição em que ocorre um afinamento progressivo da córnea acompanhado de aumento da sua curvatura. A área central da córnea, paracentral ou ambas, ficam mais finas, e a pressão interna do olho atuando sobre esta área de menor resistência faz com que ela fique excessivamente curva, adquirindo a forma de cone.
O ceratocone geralmente surge na adolescência, podendo manter-se estável ou progredir, o que pode ser detectado pela avaliação da córnea por meio de exames especializados. Entre 10 a 15% dos casos de ceratocone continuam a progredir após os 30 anos de idade.
Com a progressão da doença, a córnea torna-se irregular e cicatrizes podem ocorrer, com prejuízo para a visão. O ceratocone pode comprometer severamente a visão mas raramente leva a cegueira.
Quais as causas do ceratocone?
Apesar de desconhecidas, algumas hipóteses são consideradas para explicar o aparecimento do ceratocone. Uma delas considera que o ceratocone surge em decorrência de fatores genéticos. Estatísticas mostram que 13% dos portadores de ceratocone têm outros membros da família com a doença.
Dentre outras possibilidades consideradas, o ceratocone pode ser uma condição degenerativa, ou uma condição secundária a outras doenças, estando por exemplo, associado a síndrome de Down e alergias. Alguns estudos apontam que a exposição a radiação ultra-violeta poderia estar ligada ao aparecimento do ceratocone, uma vez que a doença é mais frequente nas regiões com alto índice desta radiação.
Como é feito o diagnóstico?
O oftalmologista faz o diagnóstico do ceratocone pela história relatada pelo paciente, por meio do exame oftalmológico e utilizando exames complementares da córnea . Atualmente, com os equipamentos de alta tecnologia utilizados, o diagnóstico do ceratocone pode ser feito numa fase muito inicial, antes mesmo de surgirem os primeiros sintomas, ou antes das alterações oculares poderem ser observadas num exame oftalmológico de rotina.
Para o paciente, a primeira indicação da doença é a piora da visão, a qual pode apresentar-se borrada, com as imagens distorcidas. Com a evolução do ceratocone, podem ocorrer mudanças frequentes no grau da miopia e do astigmatismo. Mesmo com alteração dos óculos, eles podem não proporcionar uma boa visão.
O portador de ceratocone pode ainda apresentar visão dupla (diplopia), a visão de várias imagens do mesmo objeto, percepção de halos em volta das luzes e sensibilidade exagerada à luz (fotofobia).
Frequentemente há queixa de muita coceira nos olhos. Nestes casos, o oftalmologista pode orientar cuidados e o uso de colírios para evitar que o paciente esfregue os olhos. Suspeita-se que o ato de esfregar os olhos possa influenciar na evolução do ceratocone.
Um exame oftalmológico deve ser realizado anualmente ou mesmo com maior frequência, para acompanhar a evolução da doença.
Quem tem ceratocone?
Estima-se a ocorrência de 1 a 4,6 casos de ceratocone para cada 2000 pessoas da população geral. A doença acomete homens e mulheres igualmente, surgindo, na maioria das vezes, na puberdade ou em adultos jovens, geralmente entre os 10 e os 20 anos de idade.
Classificação do ceratocone
O ceratocone pode ser classificado de acordo com a severidade dos sintomas visuais em:
Leve: A maioria dos portadores de ceratocone incluídos nesta categoria obtém boa visão com uso de óculos, com lentes de contato rígidas e, em alguns casos, com lentes de contato gelatinosas.
Moderado: Para os pacientes deste grupo os óculos geralmente não proporcionam boa visão, sendo necessário o uso de lentes de contato rígidas ou até mesmo a realização de um procedimento cirúrgico.
Avançado: Nesta fase os portadores de ceratocone não obtêm boa visão com óculos, restando como opções as lentes de contato rígidas e os procedimentos cirúrgicos.
Severo: Para este grupo, que representa entre 10% e 15% dos portadores de ceratocone, está indicado o transplante de córnea.
Procedimentos cirúrgicos
Anel intra-corneal: Trata-se de um anel de acrílico que é implantado na córnea com o objetivo de alterar sua forma, melhorando sua qualidade óptica e a visão obtida com óculos ou lentes de contato . A indicação da cirurgia é feita pelo oftalmologista, levando em consideração todos os dados dos exames oftalmológicos e da evolução da doença. O procedimento, que pode ser realizado sob anestesia local, é rápido e consiste na introdução de segmentos de anel em um túnel circular criado na córnea. Após 3 meses realiza-se nova refração para determinar o grau dos óculos ou lentes de contato a serem prescritas para corrigir o grau residual.
Crosslinking: Neste procedimento, a córnea é embebida numa substância chamada riboflavina e a seguir exposta por um determinado tempo a radiação ultravioleta. A riboflavina torna a córnea mais sensível a radiação ultravioleta. Para facilitar a penetração da riboflavina, o epitélio, a camada mais superficial da córnea, é removida sob anestesia local. O procedimento visa promover as ligações entre as moléculas do colágeno corneal, tornando a córnea mais rígida. O objetivo do crosslinking é impedir a progressão do ceratocone. Os estudos mostram que este resultado é obtido em mais de 90% dos pacientes submetidos a este procedimento.
Transplante de córnea: E realizado nos portadores de ceratocone severo ou avançado, que não toleram lente de contato ou nos quais já não é possível sua adaptação. O transplante de córnea é o transplante com maior índice de sucesso dentre os transplantes realizados em seres humanos, pois apresenta uma baixa taxa de rejeição.
Conclusão
O ceratocone é uma doença cujas causas ainda não são totalmente conhecidas. Diversas opções de tratamento estão disponíveis. A avaliação e o acompanhamento oftalmológico são necessários para que o médico possa orientar a conduta e o tratamento adequados, com o objetivo de manter a melhor qualidade de visão para o paciente.
Fonte:
Instituto Panamericano da Visão
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